(Foto: Luciano Oliveira) |
Mayer Hawthorne não amenizou o calor inclemente da Lapa, tampouco apagou da nossa memória os capítulos trágicos dos últimos dias no Rio; mas ainda assim fez um grande bem a algumas centenas de fãs de música que estiveram nesta sexta no Circo Voador. A animação de estar fazendo no Brasil um show só seu - ele veio para abrir as apresentações de Amy Winehouse - deu a Mayer algo do espírito do Franz Ferdinand quando deixou de ser banda de abertura do U2 no Brasil em 2006 por uma noite para se consagrar no mesmo palco. Mayer e seu grupo, The County, estavam nessa vibe mesmo, e eles souberam exatamente o que fazer com essa chance.
Foi um show de leveza, de sorrisos e palmas fáceis de serem arrancados, de empolgação genuína, ainda que nada explosiva. O repertório, composto essencialmente por músicas de seu único disco, A Strange Arrangement, ajuda demais: são músicas feitas para embalar um verão carioca. Destaque para as deliciosas Maybe So, Maybe No e Your Easy Lovin' Ain't Pleasin' Nothin', acompanhamentos perfeitos para caipirinha e dancinhas - especialmente as femininas, cheias de graça como a trilha.
"Tem horas que ele é meio Motown, em outras Daryl Hall & John Oates", comentou um amigo. Em muito concordo com ele: a maior pretensão do som de Mayer Hawthorne, impregnado de nostalgia, é a de fazer uma clara reverência às suas referências sonoras. E digo pretensão na acepção mais ambiciosa do termo. Em termos diretos, na real, ele se propõe tão somente a fazer as pessoas se divertirem. E se continuar fazendo música desse jeito, vai sempre acertar na mosca do alvo, como de fato fez ontem.
Não foi meu primeiro show de Mayer. Tive a chance de vê-lo novembro passado em Nova York. Outono, Brooklyn, casa pequena, outras centenas de pessoas, um setlist quase igual ao de ontem - as músicas do disco, versões para Snoop Doggy Dog (Gangsta Luv e Beautiful), e outra espetacular para What A Fool Believes, dos Doobie Brothers. As diferenças marcantes: lá fora, teve música cantada pelo guitarrista da banda, Topher; aqui, um frontman cheio de historinhas bacanas - como a do cara do aeroporto que lhe pediu autógrafo por tê-lo confundido com Tobey Maguire; um bis a mais (com Work To Do, Isley Brothers), direito conquistado pela plateia mais do que satisfeita; e o Rio e seu verão, claro. O verão, que deixa a plateia das bandas de cá ainda mais carioca, naquele belo espírito coletivo que Mayer & cia. não devem costumar encarar lá em cima não - a ponto de o músico ter twitado logo após o show três palavrinhas que dizem muito: "Best. Show. Ever". Querendo repeti-lo ou até mesmo superá-lo, volte sempre, Mayer. Você também é carioca. Sua música, então, nem se fala.
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Vivas à turma do Queremos, não só por mais este show como também por ter promovido e incentivado doações para os desabrigados da região serrana fluminense.
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