terça-feira, 10 de novembro de 2009

"THIS IS IT": A OBRA-PRIMA INCOMPLETA DO PEQUENO PRÍNCIPE DO POP

Fosse "This Is It" a obra de um mortal qualquer, o nome provavelmente teria apenas um sentido resumitivo, conciso e até simplista; mas como batiza o filme e o que deveria ser o show de um dos maiores artistas que passou ou vai passar por esse planeta, a coisa muda totalmente de figura.

Como quase tudo o que remete a Michael Jackson, "This Is It", o longa, é impressionante, grandioso e triste; e ao nos revelar os bastidores do que seria sua última turnê, nos aproxima bastante de Michael, nos levando embora do mar de boatos que tanto falaram dele e por ele para nos deixar diante da genialidade que fez o mundo se curvar ante ele, mas desta vez evidente não apenas na qualidade excepcional de seu talento como cantor e dançarino como na capacidade de comandar tudo o que poderia dizer respeito a ele quando estava sobre um palco.

"This Is It" nos mostra o estilo centralizador de Michael ao dirigir as ações de músicos, dançarinos, coreógrafos, iluminadores e cenógrafos e, neste comando, reforça a personalidade infantilizada do astro. Ao se reportarem a Michael Jackson, fica evidente que todos estão ali falando não com um gênio, mas com um menino-prodígio. No jeito de cada um falar com ele, há o respeito que se deve a um chefe, a reverência apropriada por se estar diante de um fora de série, mas tudo sempre exercido de uma forma até pueril.

"Michael, então faremos desse jeito, certo? É assim que você quer que a gente faça?", pergunta alguém. Noutro instante, Kenny Ortega, o diretor do show, ao ver o cantor fazer o test drive de uma plataforma que o erguia metros acima do solo, pede: "Michael, por favor, ponha as mãos na barra de segurança". Em "This Is It", Michael se alterna entre Rei e (Pequeno) Príncipe do Pop: educado, cortês, tímido, mas também exigente, teimoso, eloquente, infantil e caprichoso - em todos os sentidos e acepções do termo. E feito de cristal dos mais frágeis. Talvez por isso ninguém tenha a iniciativa de tocar em Michael Jackson em nenhum instante do documentário. De fato, em toda a sua gentileza, ele era inacessível.

Além de um outro olhar sobre a personalidade de Michael Jackson, "This is It" também atende muitíssimo bem a outro propósito: mostrar o show que ele faria - o maior espetáculo que jamais será visto por ninguém. Os fragmentos de arranjos, danças, efeitos especiais e itens de cena do que Michael e cia. preparavam nos deixam frustrados pois, juntos e compostos no longa, estes pedaços provam que as libras dos ingleses e os esforços dos afortunados forasteiros que prepararam viagens para aplaudir Michael Jackson seriam recompensados com bônus. "This is It", o show, era simplesmente monumental. Na verdade, não sabíamos se o endividado Michael Jackson conseguiria cumprir a promessa de que aquele seria seu último sprint como performer; porém, se de fato fosse, seria um apogeu - e isso, de certa forma, me fez esquecer (um pouco) o aspecto caça-níqueis de "This is It", pois na verdade seria um pecado mortal nos deixar alheios a toda aquela filmagem.

Não há chance de negar: "This Is It" entristece, abala e nos faz sentir ainda mais órfãos do gênio Michael Jackson; mas em meio a toda admiração pelo tempo que Michael Jackson e as estranhas contingências e consequências de sua vida tivessem nos privado tanto tempo de seu talento, o filme dá ao mundo um grande presente: atestar que, mesmo em meio ao caos de ser Michael Jackson, nada nunca o conseguiu separar ou fazê-lo esquecer de seu monstruoso dom.

3 comentários:

Rafa disse...

C.A. Apesar de não ter gostado do filme, você tem razão nos 3482 caracteres de sua resenha!

A metafora do Pequeno Principe é a ideal para expressar MJ nos bastidores do show.

Eu já havia assistido a Dangerous Tour ao vivo e o que vi no This is It foi a mesma coisa. E isso me incomodou, já que venderam a coisa como algo nunca antes visto.

Mas o filme prova que o grande trunfo do show, não são as luzes, os fogos, os efeitos em 3D mas sim, o próprio Michael. E esse apesar de não ser novidade, não deixa de ser sensacional.

Rach disse...

Eu também não me impressionei com o show em si, de fato era tudo meio requentado. Mas ok, o impressionante é sempre ele.

Por causa do dançarino fenomenal a gente esqueceu muitas vezes do músico e do cantor. O filme dá exemplos lindos de como ele tinha um ouvido sinistro e uma voz sensacional.

E o dançarino... Bem, o dançarino realmente é algo que nunca vai ser lugar comum. Nunca.

Me chamou atenção também como música e dança pra ele eram a mesma coisa, um não vinha sem o outro. Era desse jeito que ele se expressava e no filme pra mim fica muito claro como era totalmente intuitivo.

Genial.

Arthur Arroxelas disse...

Carlão, sem palavras meu velho. Parabéns.

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