quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Walking Dead Compendium One: os zumbis são o de menos...

Quando imagina uma obra qualquer relacionada a zumbis, no que você pensa? É engraçado porque o tema "sobrevivência", embora esteja sempre em primeiro plano nessas histórias, não é tratado assim pelas nossas cabeças ao considerarmos essa pergunta. Pois é esse o grande trunfo de The Walking Dead Compendium One, livro que reúne as 48 primeiras edições dos quadrinhos que originaram a série de TV.

Lendo os quadrinhos de Robert Kirkman, percebe-se o quanto muitos autores perdem excelentes temas presentes e possíveis pra ficar boiando na superfície da sopa. Não que eu não goste de sensacionais besteiras do gênero, como Zombieland ou Shaun Of The Dead, porque curto de verdade; mas Walking Dead se torna algo especial por utilizar os zumbis - chamados na obra de biters, roamers, mas nunca pelo nome mais comum e tradicional - como o que de fato podem vir a ser, se devidamente numerosos e disseminados, como aqui são: causas de uma nova ordem mundial. E é aí, meu camarada, que mora o verdadeiro terror.

A partir do caos deflagrado pela devastação zumbi, resta aos poucos infelizes humanos que sobreviveram usar o que têm para não só se safarem, mas se reinventarem enquanto animais sociais. E em situações extremas, como sabemos, o homem vai na mesma batida, revelando o que nele há de melhor e de pior. Kirkman exemplifica isso especialmente no grupo liderado por Rick Grimes, formado por pessoas que forçadamente são obrigadas a se entenderem minimamente para tentar reconstruir o que restou de mundo. E talvez por quase voltarem à estaca zero, de fato formam sociedades com novos costumes e conceitos. Só para citar um exemplo muito à mão, sendo muito prático, nesse mundo de Kirkman, roubar deixa de ser crime para ser o corriqueiro...mas nem por isso os que (não) praticam o delito não deixam de se questionar por isso. E o que dizer das crianças, que vão desconstruindo o pouco que formaram nos corações e cérebros para se adaptarem ao lado dos pais e adultos à nova realidade?

O tema é mesmo rico demais, e fica melhor ainda quando deixa de ser genérico para ser ultrafocado no pessoal, humanizando ao máximo a jornada. Não são poucas as vezes em que você, ao longo da leitura, se pega antipatizando com um personagem por conta de uma atitude mas, no minuto seguinte, reflete e chega à conclusão de que não faria algo muito diferente não. E o contrário também acontece frequentemente. É uma luta constante, não só de preservação da vida como também do sentimento sobre os instintos, da razão frente à loucura; e em todas elas, muitas derrotas e vitórias.

Ao todo, são 1088 páginas (!!!) que, garanto, parecerão poucas para os que gostam de histórias em que, o tempo todo, as pessoas são convencidas de que não sabem do que realmente são capazes. Pode ser o seu caso, e eu acredito e torço para que seja; e é por isso que digo: se for de verdade, mas se você ainda tiver alguma resistência por conta dos zumbis e sua extrema violência brutal e insana, pode acreditar que qualquer pavor vai parecer barato diante dessa espetacular crônica sobre o comportamento humano que é The Walking Dead.

P.S. 1: Vi a primeira temporada da série de TV, verei a segunda, mas já garanto: nada vai chegar aos pés do que eu li.

P.S.2: Preciso dizer que já encomendei os livros seguintes? ;)


5 comentários:

Paulo Olmedo disse...

Pois é, CA. A HQ é sensacional, mesmo o experiente Darabont não conseguiu fazer uma série tão profunda quanto os livros. A última HQ que eu li tinha sido a 84 e a história permanecia excelente. Esse compêndio parece estar imperdível.

Carlos Alexandre Monteiro disse...

Excelente saber disso, Paulo! Não vejo a hora de pôr as mãos nos novos livros...

Abraço!

Cadu França disse...

Walking Dead é muuuito bom. Achei a série direitinha, mas nem se compara. Já li até o número 84, e continua no mesmo nível.

Carlos Alexandre Monteiro disse...

Verdade, Cadu. Os quadrinhos são imbatíveis... Abraço!

Anônimo disse...

tem o Compendium One em português?

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