sábado, 21 de março de 2009

KRAFTWERK + RADIOHEAD = INESQUECÍVEL.



Qualquer discussão sobre a banalização de alguns adjetivos não pode usar o show do Radiohead como exemplo. Não pode. O que algumas milhares de pessoas testemunharam ontem na Praça da Apoteose, no Rio, foi muito além do cumprimento de expectativas alimentadas anos e tracklists a fio: o show de Thom Yorke, Colin Greenwood, Ed O'Brien, Jonny Greenwood e Phil Selway foi colossal.

Mas antes deles vieram os Los Hermanos - que não vi e nem fiz questão de ver, pois já tinha conferido tudo o que queria deles - e, enfim, o Kraftwerk. Eu tinha perdido o show deles nas duas primeiras apresentações no Rio - um pecado que se tornou ainda maior quando consegui conferi-los. Música e projeções casadas num convite à hipnose, a acertadíssima frieza calculada, as roupas à la Tron... Enfim, uma aula de como se amarrar um conceito e transformá-lo em espetáculo e a ótima sensação de se estar diante dos Chuck Berries da música eletrônica, ao som de músicas como "Showroom Dummies", "Tour de France" e "The Model".



No ótimo show do Kraftwerk, apenas dois problemas, e nenhum deles a ver com o quarteto: 1º) A certeza de que o climão do show deve funcionar bem melhor em lugares fechados, com o público mais próximo do palco, e o som mais alto; 2º) O desinteresse de grande parte do público, que estava ali só pelo Radiohead. E isso aconteceu porque o Kraftwerk não merece ser banda de abertura, e o show deles não serve a esse propósito. Fico feliz por eles terem sido escalados, pois assim pude finalmente vê-los em ação, mas seria bem melhor que o show deles fosse à parte, em outros locais e circunstâncias. Mas acredito que ainda farei um post de uma apresentação só deles, nas CNTP que merecem.

E então, Radiohead. Do começo ao fim, uma experiência. Nos primeiros instantes de "15 Step", a impressão de que teríamos um show daqueles para guardar nos corações. É tudo de um bom gosto imenso, e simplicidade joga junto com a genialidade na cenografia: o palco é essencialmente iluminado por leds em tubos que vêm do teto. No telão, a ideia antes materializada no Scotch Mist, o show online que a banda usou para promover o "In Rainbows": uma grande imagem dividida em quadros; e, em cada um, um integrante captado por uma câmera exclusiva. Matador.

Mas falemos de música - ou seria de transe? Se o Radiohead não é exatamente um grupo que faz suar a camisa de seu público, ao vivo potencializa ao máximo a capacidade presente nos discos de fazer a platéia viajar. Gente cantando de mãos pra cima. Gente de olhos fechados, curtindo seus universos particulares ao som de uma luxuosa trilha. E outros, como eu, que preferiam não tirar os olhos do palco.

O setlist de 25 músicas (vide abaixo) foi generoso. Do último álbum, "In Rainbows", destacaram-se a força de "Bodysnatchers" e o duo de violões em "Faust Arp". Tudo especialmente bom e, sobretudo, belo.

Para dançar, além da já citadas "Bodysnatchers" e "15 Step", a eletrônica "Idioteque", "Just" e "The National Anthem". Uma de minhas preferidas, "The National Anthem" teve o arranjo de metais substituído pela cantoria da melodia feita por Yorke. Pena que Jonny Greenwood não sacou um trombone qualquer de sua caixa de 2332 instrumentos. Aliás, o cara não para. Sai da guitarra para o teclado para o Ondes Martenot (aquela espécie de theremin de teclas) e ainda usa sua invejável coleção de pedais para fazer o que quiser.

Voltando a falar de discos, para mim os melhores momentos saíram do "Ok Computer": a etérea "No Surprises", arrepiante como nunca; e, claro, "Paranoid Android". A parte lentinha, do "Rain Down", cantada em coro pela massa de braços erguidos é algo que vou seguir vendo durante muito tempo quando fechar os olhos. Banda feliz - muito feliz, diga-se - e público entregue, apaixonado. Espetáculo.

E ainda teve mais, muito mais, com surpresas espontâneas (como o simpático erro de Yorke na letra de "Everything In Its Right Place"), pungentes (o pianão com câmera megamaxiclose em Thom Yorke de "You and Whose Army", introduzidos por um "United States tries to fuck with you" do líder da banda), mais corinhos incríveis (o "I lost myself" de Karma Police, o rasgadão de "Just") ... E, depois de dois bis, um encerramento-agradecimento: "Creep". Achei excepcional que a banda tenha deixado como última música de seu show uma canção que pouco/nada tem a ver com o momento do Radiohead, mas que certamente foi a primeira a chamar a atenção para o grupo de muitos que ali estavam; e que, a partir dela, deixaram-se levar pelo brilhante caminho percorrido pelo Radiohead. Justo, legítimo, especial.

Engraçado: por anos e anos, ao falarmos de Radiohead, vários fãs lamentavam o fato de não vivermos nos países de primeiro mundo, em que a banda se apresenta com uma frequência invejável. Mas tenho certeza de que muitos pensam que, se shows deles fossem tão frequentes em nossas vidas, talvez não tivéssemos achado a noite de ontem tão marcante. Né?

Besteira. Queria eu que houvesse mais noites de luzes encantadas, de "No Surprises" e de vozes unidas como em "Creep". Mas agora, mesmo, o importante é que, por pouco mais de duas horas, essa noite existiu - e uma das mais bonitas que já tive.

***

SET LIST

15 Step
Airbag
There There
All I Need
Karma Police
Nude
Weird Fishes/Arpeggi
The National Anthem
The Gloaming
Faust Arp
No Surprises
Jigsaw Falling Into Piece
Idioteque
I Might Be Wrong
Street Spirit
Bodysnatchers
How to Disappear Completely

PRIMEIRO BIS:

Videotape
Paranoid Android
House of Cards
Just
Everything In Its Right Place

SEGUNDO BIS:

You And Whose Army
Reckoner
Creep

***

P.S.1: Neste canal do YouTube temos os vídeos do show. Agradecimentos ao cybertechno.

P.S.2: Sabem o mosaico que abre o post? Não sei se todos notaram, mas é ampliável. Basta clicar. Na verdade, é uma reunião de todas as fotos que tirei de meu celular, a uns 30 metros do palco. Devo postar as imagens no meu Flickr. Se fizer isso, aviso...

P.S.3: Fãs que estarão no show de SP, mais uma vez: preparem seus corações.

14 comentários:

Gabriela Spinola disse...

Se o show do Oasis em SP for metade do que foi esse do Radiohead, tô muito mais do que feliz. Corro o sério risco de ser esmagada na multidão, mas estar lá cantando "Cigs & Alcohol" de braços pro ar será o momento alto dos meus 14 aninhos

P.S.: Não sou muito fã do Radiohead, mas com esses comentários seus vou baixar mais umas músicas... Não tocaram "Fake Plastic Trees" não?

Deb disse...

Show da vida mesmo, realmente é necessário usar palavras clichê pra descrever! Pena não rolar My Iron Lung, mas fechar com Creep, que eu já tinha desistido de esperar, compensou!

Kaká disse...

Ótimo relato CA! Esse era um show que eu queria ter ido...quem sabe da próxima vez. :)

Anônimo disse...

Ontem teve show do Iron Maiden aqui em Brasília. Faço minha suas palavras sobre o show do Radiohead. Mas claro que Iron owna Radio XD

Petter disse...

Como havia comentado lá no blog, inveja mortal tua C.A!
PQP, deve ter sido muito foda, ainda mais agora olhando os videos e o set list deu pra ter uma idéia de como foi!

Demais,demais...abração!

Unknown disse...

Amigo,
essa câmera em hiperclose e as palavras sobre "USA fucking with you" não foi durante You and Whose Army?
Mas ótimo show!
Abraço

Anônimo disse...

O melhor show da minha vida. 12 anos de espera que valeram a pena.
E que por favor, eles voltem!

Anônimo disse...

Só não fala que you and whose army eh do 'in rainbows'! :)

Carlos Alexandre Monteiro disse...

Petter, tinha que ter visto, cara!

Gabi, aproveita. Shows da vida foram feitos pra isso. E "Fake Plastic Trees" rolou em SP!

Anonimo, editei a correção apontada pelo Nobre e deixei esse furinho. Obrigado aos dois.

Thiago, já estamos na torcida!

Matheus, já eu penso que Radiohead >>>>> Iron, heheh. E respeito muito Dickinson e cia.!

abraços!

Anônimo disse...

"O amigo Nelson Motta costuma dizer que, se o público da apresentação do Police no apertado ginásio do Maracanãzinho em 1982 fosse aferido pelos que hoje juram ter estado lá, o número passaria fácil dos 200 mil espectadores.

Seguindo esse raciocínio, daqui a uma década teremos meio milhão de brasileiros a jurar que estiveram na Chácara do Jockey no domingo, 22 de março de 2009." Erick Brêtas, para o G1.

Eu estava! Nunca esquecerei! True love waits!

Anônimo disse...

hehe de nada! Aliás, fui no rio e em são paulo,
Foi legal que contei 7 músicas diferentes entre os shows!!

Ps: lembra de um bêbado que foi falar contigo do lost in lost no tim festival de (acho) dois anos atrás? Sou eu!!!

Abraços e até breve!

Diego

Fabricio Yuri disse...

alex "homer" definiu K=Werk:
"poderiam ter mandado o show por email..."

Jessy disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jessy disse...

pow tipo eu achei fantástico o mosaico q vc fez com as fotos do show, mas vc não poderia colocar todas as fotos separadas não, assim daria pra ver melhor esse show maravilhoso...
por favor!!

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