E aí que a música é legal. E só. Fosse qualquer outra bandeca fazendo, muita gente nem iria dar atenção. Mas é o Weezer. O Weeeeeeeeezer. Aí então a coisa muda de figura, a música vira obra-prima, e para alguns um quase-novo-segredo-da-Virgem-Maria.

Bom, seja como músico, seja como ouvinte, eu sempre odiei esse comportamento de se gostar da banda e, conseqüentemente, adorar toda e qualquer coisa que ela faça. Para mim, isso significa simplesmente jogar o critério no lixo, pois o ideal seria o contrário: curtir a música e, assim, gostar do artista. Afinal, o que não é o artista se não o que ele faz?
É. Mas não é assim que a banda toca - sem intenção de trocadilho, juro. Há grupos que atingem um patamar perigosíssimo, uma zona de segurança em que, uma vez que se está nela, seu público compra toda e qualquer música lançada como a grande sensação do momento. Boa parte dos fãs nem se importam com o que estão ouvindo, mas sim com estar ouvindo. Ruim para eles, pior ainda para o grupo-objeto de adoração, que periga adotar uma auto-indulgência que lhes permite fazer o que quiser, já que, sofrível ou não, sua música será venerada - e ai de quem não gostar.
Me lembro da fábula da roupa nova do rei. Resumidamente, é o seguinte: sua Majestade de um reino qualquer resolveu chamar dois tecelões que se proclamavam os melhores já existentes para fazer sua nova roupa, a ser usada em um desfile. Mas os caras eram uns trapaceiros, e fingiam estar trabalhando com o mais fino, resistente, belo e etéreo dos tecidos, quando na verdade, estavam costurando o ar. Com medo de se passar por tolo, o rei - e, por tabela, seus cortesãos - julgaram ser lindo o novo tecido. Pois bem: o rei desfilou com a "roupa", sendo admirado por todos os que lhe cercavam, até que uma criança, em sua inocência, exclamou: "O rei está nu!"; e só então o dito cujo se deu conta do ridículo.
Mas falemos de Weezer. Como disse, "Pork & Beans" é legalzinha - com direito até a uma citação ao produtor Timbaland, no trecho "Timbaland knows the way/ To reach the top of the charts/ Maybe if I Work with him/ I can perfect the art" ("Timbaland sabe o caminho/ Para se atingir o topo das paradas/ Talvez se eu trabalhar com ele/ Eu possa aperfeiçoar esse dom") -, mas não passa disso. E olha que não estou nem comparando com o que a banda já mostrou ser capaz de produzir... e é aí que está o problema.
O lance é que, em se tratando do Weezer, as pessoas ouvem o novo saudando o velho. Em outras palavras, "Pork & Beans" não será venerada pelos fãs da banda por conta de "Pork & Beans", mas sim pelo passado do grupo, brilhantemente construído tanto no disco de estréia da banda - o epônimo e famoso "álbum azul" - como no menos ensolarado e ótimo "Pinkerton".
Falem o que quiser, mas para mim, desde "Maladroit", o Weezer é uma banda que se aplaude pelo que fez ontem, não pelo que faz hoje. Hoje, Rivers Cuomo e seus companheiros são como o roqueiro velho que, apesar da voz falha e dos tropeços, a gente saúda por conta do histórico da obra. Que nem se faz com os Romários da vida, sabe?
Tomara que um dia eu volte a aplaudir o Weezer pelo novo. Assim, me sinto mais justo comigo mesmo. Mas ao ouvir "Pork & Beans", não adianta: por mais que ainda esfregue os olhos, vejo que a majestade ainda precisa de roupas.