terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
EXALTA REI E O HYPE DE ROBERTO CARLOS: A MAJESTADE NÃO ESTÁ NUA, MAS QUASE TODOS ESTÃO SURDOS
O que se vê acima é o registro de um pequeno e importante momento do desfile de estreia do Exalta Rei, realizado nesta segunda de carnaval. O Exalta é um bloco carnavalesco que toca músicas de Roberto Carlos em ritmo de marchinha e que desfila pela Urca, bairro onde seu muso inspirador reside; e em seu début teve a simpática participação de Roberto, que desceu ao playground de seu edifício no momento em que o bloco passava por ele para cumprimentar os foliões...
O Exalta Rei e o instante precioso da comunhão entre homenageadores e homenageado foram e continuam a ser divulgados via Twitter, e quase sempre com comoção. E me recordam de uma coisa que invariavelmente me incomoda: o hype em torno de Roberto Carlos.
Antes que vocês venham me dizer "Cara, se toca: esse hype existe há pelo menos quatro décadas" eu devolvo: eu só vejo sinceridade no que foi criado em torno de Roberto há quatro décadas. Salvo raras exceções, para mim 99% das pessoas que dizem venerar Roberto Carlos, que dizem sentir muitas emoções todas as vezes em que o veem e ouvem, só o fazem pelo prazer/necessidade/vontade de não destoar do cool.
Quando eu tinha uns 18 anos - o que já faz uma década e meia -, não era legal dizer por aí que você gostava de Roberto Carlos. Pensar nele era visualizar um velho de mullets com uma pena ridícula pendurada na orelha, e não lembrar de incríveis músicas que ele criou antes de homenagear mulheres de óculos ou de clamar pela Amazônia, insônia do mundo. Naquela época, Roberto Carlos não era a trilha do bloco dos descolados, o revisitado pelos bacanas de bandas bacanas em projetos paralelos. Roberto Carlos, para a galera da faixa de 18, 20 anos em meus 18 anos, era tão brega quanto... quanto... um especial de fim de ano da Globo.
Há um bom tempo isso mudou. Não gostar de Roberto Carlos é que é cafona. E gostar não basta: é preciso reverenciá-lo. Do contrário, te olham torto. Te acham errado. Te mandam pra guilhotina. E isso me irrita muito, sobretudo porque há nessa condenação um quê de ilegitimidade violento, pois a gigantesca maioria dos que pedem a cabeça dos hereges sequer têm o mínimo de envolvimento com a obra de Roberto Carlos. Não digo que não saibam as músicas, até porque penso ser impossível algum brasileiro não-indígena não saber pelo menos trechos de no mínimo meia dúzia de canções dele; mas que sua obra não significa pra boa parte dessas pessoas a importância que elas atribuem, ah, mas não mesmo.
Eu não posso dizer que gosto de Roberto Carlos, mas curto diversas músicas dele. Porém, mesmo que fosse de fato o que se pode chamar de fã, acho que teria vergonha de assumir isso. Não por Roberto Carlos, óbvio, mas pra não me misturar com boa parte de fingidores que fingem sentir que é amor o amor que de fato não sentem. Com todo respeito aos componentes do Exalta Rei, públicos e autores de tributos contemporâneos, quando ouço alguém da minha geração dizer que "ama o Rei", eu lembro da tia Irani, mãe de amigos meus de adolescência. Ou da dona Vitória, avó de uma ex-namorada. E de tantas senhoras das quais já ouvi frases como "Meu velho que me desculpe, mas o Roberto pra mim é o Roberto". Nelas eu acredito. Nos demais...
Não adianta nem tentar: sobre amor a Roberto Carlos, quase sempre só percebo legitimidade em rostos com rugas ou debaixo de caracóis de cabelos brancos, cujos donos foram protagonistas de jovens tardes de domingo e não foliões de segundas carnavalescas. Talvez seja apenas minha estupidez, mas duvido muito.
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5 comentários:
Oi Alexandre,
gostei do que você escreveu, embora não concorde plenamente.
Tenho 38 anos e sou um dos que veneram o Rei.
E que lhe pedir permissão para colocar esse video em nosso site em homenagem ao Rei, que aliás, desde ja, lhe convido a visitar.
Obrigado, e grande abraço,
Fabiano Cavalcanti
www.fabianocavalcanti.com.br
Carnaval... zzzzzzzzzzzzzz
A única coisa que salvou esse carnaval (o meu) foi a entrega do Oscar.
Eu odeio o Roberto Carlos. Acho que suas músicas são pobres e sem poesia, odeio músicas que só falam de amor por falar.
Em termos de carnaval, sair num bloco ao som de " ... amigo de fé meu irmão camarada" só perde mesmo pra se ficar em casa, assistindo ao desfile das escolas de samba de São Paulo, na Globo
Hey meu rapaz! Vendo seu post achei que você gostaria desse matéria:
"Morte de Roberto Carlos abala até Papa Bento XVI"
http://baldedopovo.wordpress.com/2011/09/11/morte-de-roberto-carlos-abala-ate-papa-bento-xvi/
Hehehe Estamos juntos nessa luta contra a monarquia rsrsrs
(se quiser re-blogar, ou divulgar de qualquer forma, avontis!)
Bem, é só, tchau e boa sorte!
:D
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