quinta-feira, 14 de maio de 2009

"KAFKA DE CRUMB": ESQUISITICE DAS BOAS

Numa noite dessas - não faz muito tempo -, eu dei apenas R$9 para a mocinha da Livraria da Travessa e em troca ela me deixou levar para casa uma ótima obra sobre um dos escritores mais esquisitos da história. O autor é Franz Kafka; e o livro em questão é "Kafka de Crumb".

Como o nome já explica, a obra conta com os quadrinhos de um outro sujeito bastante atormentado: o excelente Robert Crumb, ilustrador underground, criador de personagens como Fritz, The Cat. Mas "Kafka de Crumb" também tem o bom texto de David Zane Mairowitz, que forma com o quadrinista uma dupla que dá a uma biografia de Franz Kafka o tom de estranheza necessário e adequado à sua história.

E quem foi Franz Kafka? Quem só o conhece por sua mais famosa obra, "A Metamorfose", ao ler "Kafka de Crumb" entende um pouco mais da mente do homem que resolveu um dia contar a história de um sujeito que acordou transformado em uma barata. No repugnante inseto há muito de Kafka, sujeito cheio de neuras, com uma relação mal-resolvida com quase tudo em sua vida - o físico, a condição de judeu, o trato com as mulheres e, sobretudo, com a relação atribulada de ódio/submissão/paixão pelo pai, Hermann.

A tensão reinante entre Kafka e Hermann permeia todas as obras do escritor - sintetizadas de forma cativante por Robert Crumb em quadrinhos. Além de "A Metamorfose", o ilustrador ainda nos resume "O Processo", "A Toca", "Na Colônia Penal"... Em algumas destas histórias, além da obssessão paterna, há também a presença de outra característica da obra kafkiana: o uso de animais, se não como personagens principais, pelo menos em metáforas frequentemente utilizadas pelo autor como forma de rebaixá-los... e de rebaixar-se também.



Pus a página da versão em inglês, mas o
livro saiu por aqui também



Em suas 175 páginas - na prática, parecem 50, de tão fluente que é sua leitura -, "Kafka de Crumb" serve bem tanto como um guia para quem quer ser introduzido à obra de Franz Kafka como aos que já conhecem os trabalhos do escritor e querem saber o que existe de real em tanto tormento ficcional. Em "Kafka de Crumb" lá está o escritor, competentemente despido, mastigado, engolido e regurgitado em quadrinhos que ganham toda a atenção daqueles que adoram conhecer o criador por trás da criatura e constatar que a fronteira entre os dois é quase nula.

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