segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"INGLOURIOUS BASTERDS": TARANTINO REESCREVE A HISTÓRIA E FAZ JUSTIÇA COM A PRÓPRIA TELA

Para (antes do) início da conversa, o texto abaixo não é para quem ainda não viu o filme, mas pra quem já o assistiu. Se você se enquadra na primeira categoria, tudo o que você precisa saber por agora é que o filme é do cacete, e que você não pode perder. Certo? Certo.

***



Quentin Tarantino estava em sua casa, jogado na cama. Ao ver um documentário sobre Hitler e o nazismo, pensa o seguinte: "Eu poderia explodir a cara desse filho da puta. Poderia? Espera um pouco: eu posso fazer isso!". E assim surgiu "Inglourious Basterds" (ou "Bastardos Inglórios", como queira).

O breve fato descrito no relato acima não aconteceu - ao menos eu penso que não, já que o inventei. Mas se por acaso eu souber que o surgimento da ideia para o filme foi num esquema parecido, não vou me espantar, pois é exatamente isso o que ele faz. "Inglourious Basterds", na verdade, concretiza o que 90% dos todos-poderosos de Hollywood sempre quiseram mas nunca se atreveram a fazer: um extermínio selvagem do líder do nazismo e de seus principais asseclas em um livre exercício de reinvenção da história. É algo simples e intuitivo, nada elaborado mesmo, mas sabe-se lá porque até o filme de Tarantino houve pudores da ficção em se pensar numa versão alternativa dos fatos, em que Hitler acabaria tomando trocentos tiros de uma dupla de judeus, que ainda ganhariam outros mandatários do Reich de brinde.

Em "Inglourious Basterds", Tarantino não só chutou pro gol essa bola que há tempos vem quicando na área, mandando Hitler, Goebbels e outros bate-continência nazis pro cacete, como ainda o fez com uma sutil metarreferência: a justiça se dá dentro do cinema - ainda que o nazista mais odioso de toda a história do filme não vire churrasco nem termine crivado de balas: Hans Landa, vivido de forma espetacular por Christopher Waltz

Waltz merecia mesmo um parágrafo à parte para falar de sua interpretação de Landa, personagem que nos provoca raiva por sua astúcia; mas como isso é um blog, digo apenas que se trata de um show à parte dentro do filme. Ninguém precisa de esforço para lembrar que Landa é dono dos momentos mais ricos e tensos do filme - pra citar dois deles, na sequência de abertura e no reencontro com Soshanna na cafeteria.

(Parênteses para dizer: Tarantino, que sempre fora amante de silêncios eloquentes, em "Inglourious Basterds" os lapidou como em nenhum outro filme seu.)

Além de Christopher Waltz, Brad Pitt é outro destaque, no papel de Aldo Raine, chefe dos Basterds; Sylvester Groth domina o irritante Joseph Goebbels; e Til Schweiger e seu nervosamente calado Hugo Stiglitz também brilham. No mais, o elenco todo vai muito bem, confirmando uma tradição tarantinesca: a de escolher bem o cast de suas obras. E já que falamos de características do diretor, "Inglourious Basterds" ainda traz as trilhas de western spaghetti, a obsessão por pés femininos, diálogos e construções de ideias inusitadas e mortes sanguinolentas e, por que não, divertidas. Ou alguém aí não curtiu o home run do Urso Judeu e a tradição dos caça-nazis em escalpelar suas vítimas?

"Inglourious Basterds" é mesmo um amontoado de auto-referências de Quentin Tarantino; mas, como sempre, isso não atrapalha em nada e não soa como falta de originalidade - até porque, repito, ter a ideia de matar Hitler no cinema matando Hitler no cinema já valia o ingresso. E uma vez que o antes, o durante e o depois são excelentes, aí mesmo que me sinto obrigado a citar Hans Landa para resumir o que vi: "Bingo!". Tarantino, seu bastardo: acertaste novamente.

7 comentários:

Alan Ongaro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alan Ongaro disse...

Thatsss a bingo!!!

Concordo 100% e digo mais, essa é a OBRA-PRIMA do Taranta, assim como o mesmo afirmou através da personagem do Brad Pitt ao término!

PS: A trilha sonora já está disponível na net, recomendo fortemente!

Deniac disse...

Cara, digamos que estou colecionando resenhas do filme e posso te dizer com certeza: todos dizem o mesmo.

Por isso, meus parabéns por diferenciar dessa grande massa de jornalistas clones uns dos outros.

Muito legal mesmo!

ThiagoJeronymo disse...

concordo com tudo........o filme é FODA!!!!!! Tarantino arrasou.....sem contar que matar o Hitller quando ele está assitindo um filme foi sensacional....... e o Christopher Waltz..sem palavras....bela atuação.....

Murilo Herik disse...

Arrivederci com sotaque americano sulista é sensacional, Brad "Corleone" Pitt sensacional. Ja nem sei mais como elogiar esse filme.

Rafa disse...

C.A.
Desisto de escrever qualquer crítica!hahahaha A sua é sensacional! Só não me sinto frustrado porque continuo com as trilhas sonoras hahahaha...

Dá uma passada no FiqueBege para aprender a letra de "The Green Leaves of Summer" rs....

Ariivederci! hahaahah

Matheus Rufino disse...

Achei megalomaníaco ao extremo, e talvez o Tarantino que eu menos tenha admirado [não vi death proof], mas ainda assim, adorei assistir, foi um deleite só. A atuação do Christopher Waltz pra mim foi o melhor do filme, e os dois primeiros capítulos foram os mais perfeitos, se os demais os tivessem seguido em qualidade, aí sim seria uma obra-prima. Mas não há como dizer que o Tarantino errou, não mesmo, ele acertou de novo, o filme satisfaz o espectador sem dúvida nenhuma, só achei que no fim das contas o filme não foi tudo que um filme do Tarantino costumar ser. Vou adorar vê-lo de novo, vou lembrar dele como um dos grandes filmes de 2009, mas quando pensar nas obras do diretor, esse filme ficará em segundo plano.

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