Diabetes. Hipertensão. Essas duas palavras, que tão bem resumem a herança genética que me ameaça, são as mesmas que me empurram para um lugar que muita gente que me conhece não me imagina freqüentando: a academia. Na verdade, eu já fui mais empurrado. Hoje estou mais para "conduzido" - e acho incrível a naturalidade com que escrevo isso.
Digo isso porque consegui, há algum tempo, topar um desafio que segue sendo uma impossibilidade pra muita gente que está pouco se lixando para o histórico familiar e pras conseqüências ruins das deliciosas titicas que empurramos goela adentro: o de simplesmente estar numa academia. E um grande motivo para a recusa, penso, é muito simples: é que poucas pessoas que realmente deviam estar num lugar desses de fato são vistas por lá. Na verdade, para os que estão do lado de fora, a impressão maior é a de que as pessoas que lá freqüentam já eram fortes (homens) e gostosas (mulheres), bem dispostos e tinham o corpo bacana antes mesmo de se matricularem. Ou seja: ninguém FICA em forma em uma academia. Todo mundo já chega bem.
Só essa aparente evidência já filtra muita gente como eu, que
tem barriguinha de chope não tem músculo definido; e que por isso não costuma nem passar da porta de um lugar assim. E isso sem falar das pessoas que são realmente, mas realmente mesmo iguais a mim pois, além da incompatibilidade estética, são claramente não-pertencentes a ambientes assim no conjunto da obra - música que ouve + roupa que veste + fator de sociabilidade incongruente...
Hoje consegui vencer essa barreira da academia-como-ela-é - até porque, como já afirmei, nem posso me dar ao luxo de manter essa resistência. Consigo estar ali numa boa e tenho o maior prazer em correr feito um condenado em uma aula de running. Tudo pelo desafio de me superar - frase cafona pra cacete, mas extremamente sincera - e, principalmente, pela excepcional dose de endorfina que bate depois que suo os tubos em 5km ou mais de correria.
Tá bom, vamos lá. Esse é o momento em que você me/se pergunta mentalmente: "Mas por que você está escrevendo essa porrada de coisa?". Seria um mentiroso se dissesse que esse texto não é uma tentativa de estímulo para você fazer algum exercício - se for o caso, não me odeie por isso, ainda estou no barato da endorfina. Mas a intenção maior é a esperança de que esteja sendo lido por alguém rico o suficiente para realizar uma idéia que tive: a academia alternativa.
Imagine só um centro de fitness - maldita falta de sinônimo pra "academia" - cujas caixas de som jogassem música boa em vez daquele dance farofa panaca. Melhor ainda: imagine seu DJ favorito de rock/eletrônico/drum n'bass fazendo a trilha perfeita, ao som da qual, em vez de pular alucinadamente, você estivesse correndo ou pedalando. Aulas de eletro-spinning, indie-running... Imagine.
Ou ainda: em vez de canais toscos na TV do local, teríamos as melhores séries. Nah, melhorando: e se você pudesse levar o seu DVD, que seria exibido na telinha da sua esteira ou bicicleta? Calorias e calorias eliminadas em episódios de 25 ou 42 minutos de duração...
E agora, o golpe de misericórdia: aula de Wii. Uma grande sala, com uns 15 monitores individuais, e cada aluno com o seu controle nas mãos. Só games pra matar neguinho de cansaço. Professores monitorando e desenvolvendo treinamentos com base em joguinhos viciantes como tênis e boxe. Sucesso total!
Sério. Eu me preocupo com os sedentários da minha geração. E sei que muitos deixariam um estado de pasmaceira física por um clube desse nível; e os tantos outros que, como eu, conseguem estar em academias convencionais, iriam se motivar ainda mais indo se exercitar num lugar desses. Tudo o que precisamos é de um rico que esteja me lendo, e que queira encher o bolso ainda mais de grana ao investir numa iniciativa tão nobre quanto lucrativa como essa. Se não quiser me pôr de sócio, tudo bem: uma admissão vitalícia tá valendo. E um cargo de DJ numa aula dessas, idem.
Enquanto nada disso acontece, aí vai uma listchinha das três coisas que me intrigam numa academia convencional:
1º) MULHERES QUE NÃO SUAM E CHEIRAM MUITO BEM, SEMPRE - Não estou reclamando, óbvio, mas é inacreditável. Eu canso de ver mulheres se matando em busca da boa forma entre barras de ferro, aparelhos, bolas de pilates, esteiras... e muitas delas não despejam uma gota de suor sequer! E o mais inexplicável: elas ainda mantêm o mesmo cheiro de quando entraram na academia! Aliás, elas se perfumam para chegarem lá?
2º) PROFESSORES DE RUNNING/SPINNING COM A MESMA VOZ - Claro que eu não sou daqueles que procuro a aula do beltrano ou sicrano. Faço a que se encaixa no meu horário. Mas sei que já tive uns 5 professores diferentes de running e TODOS têm a mesma voz e falam as mesmas frases. Haveria um curso de Oratória Motivacional para essa gente?
3º) MALHADOS QUE SÓ CONVERSAM - A hora de rush no trânsito é a hora da bombação na academia - ou, pelo menos, na minha. E me impressionam os que freqüentam esse horário e que só fazem social. Só. E todos em forma.
E vocês, têm mais alguma?