quinta-feira, 30 de abril de 2009
JARVIS COCKER, JASON LYTLE E SEUS DOIS ÓTIMOS NOVOS DISCOS
Jarvis Cocker e Jason Lytle. Ex-líderes de duas bandas que mereciam ser mais conhecidas pelo mundo todo. Atrações da edição #10 do Podcast Tudo Está Rodando. E uma última semelhança: os dois estão prestes a lançar discos solos ótimos no mesmo dia do ano.
Comecemos falando de Jarvis Cocker. O homem que estava por trás, pela frente e pelos lados do Pulp chega ao seu segundo trabalho solitário com "Further Complications". A sonoridade do novo disco mostra que Cocker está em uma empreitada bem diferente de seus tempos de bandleader. Agora o rock é cru, os tecladinhos deram uma saidinha pra comprar cigarros, sendo substituídos por guitarras graves, baterias mais cruas e saxofones estrangulados. E querem saber? É um tiro certeiro atrás de outro.
"Angela", a que toquei no podcast, é rockão rasgado, de riffzão, e com um pezinho em Paul Weller. "Pilchard" é animadona, quase instrumental, salvo pelos "Aaaawwm. Awwwmm. Awwwm. Pilchard!" da voz de Cocker. Jon Spencer e a turma do Eagles of Death Metal vão adorar. "Homewrecker" tem vibe de trilha de filme de espionagem, com uma pitada de requinte dada pelo saxofone. Nem está parecendo um disco do ex-líder do Pulp, né? Não mesmo.
Para não dizer que Cocker se desprendeu totalmente de suas origens, há a doce e melódica "Hold Still"; a pseudodisco à la Style Council "You're in my Eyes"; e a espetacular "I Never Said I Was Deep", balada em que ele defende com brilhantismo uma de suas especialidades: os versos afiados e bem sacados. Sintam o refrão, dito com sinceridade por ele na história da música a um affair: "I Never said I was deep/But I'm profoundly shallow/My lack of knowledge is vast/and my horizons are narrow" ("Eu nunca disse que era profundo/Mas sou profundamente raso/Minha falta de sabedoria é vasta/E meus horizontes são estreitos"). É a presença da velha e farta distribuição de pérolas de sarcasmo, embutidas em canções que, juntas, formam um álbum de encher os ouvidos.
Sem ficar atrás - talvez um tiquinhozinho, vá lá -, mas numa outra praia, vem Jason Lytle e seu "Yours Truly, The Commuter". Se Jarvis Cocker está indo para seu segundo álbum solo, este é o primeiro do ex-frontman, coração e mente do Grandaddy. Diferentemente do seu camarada inglês, Lytle segue um caminho já conhecido por ele e pelos fãs de sua saudosa banda: rockinhos (no sentido carinhoso, não pejorativo) de violão e synth embebidos em surf music, alt country e Alan Parsons Project que nos dão vontade de pegar um conversível e rasgar uma estrada daquelas de desenho animado, com um sol gigante e vermelho no infinito; e baladas tristonhas que pedem um cobertorzinho sobre os ombros diante da fogueira que estala.
Meu amigo Pedro Giglio, ao me recomendar o "Yours Truly", garantiu: "É bem na onda 'Sumday'", referindo-se ao terceiro disco do Grandaddy. É por aí mesmo. Enquanto "Yours Truly, The Commuter" e "Brand New Sun" fazem você sorrir de orelha a orelha e procurar aonde deixou sua cadeira de praia, a melancolia se mostra em acordes de piano em "I Am Lost", "Fürget It" e na valsinha "This Song is The Mute Button" - é, Jason Lytle é bom e sincero em batizar suas músicas. O contraste não confunde nem incomoda: cativa. Quem gosta de Beach Boys, Brian Wilson solo, R.E.M. e Wilco pode abraçar "Yours Truly" com carinho e vontade. Só não vai querer largar.
Como disse parágrafos acima, "Yours Truly, The Commuter" e "Further Complications" saem nos Estados Unidos no mesmo dia: 19 de maio. E uma última semelhança entre Jason Lytle e Jarvis Cocker que esqueci de mencionar é que os dois álbuns já vazaram na internet. Pelo que ambos proporcionam, duvido de que a dupla tenha ficado aborrecida...
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