domingo, 6 de junho de 2010

TUDO PODE DAR CERTO: WOODY ALLEN, LARRY DAVID E O CULTO AO HOUSEÍSMO



Um dos pontos altos do meu feriado aconteceu ontem: fui ver Tudo Pode Dar Certo, novo filme do Woody Allen - mas bem que podia contar a vocês que estive no culto da Igreja Internacional do Houseísmo. Afinal, é Woody Allen. Melhor: Woody Allen protagonizado por Larry David, o que rende aos espectadores mensagens e situações do mais puro mau-humor-sem-papas-na-língua com esforços e atenções no comportamento do ser humano, sobretudo em relacionamentos pessoais e amorosos, com requintes de falta de fé e de desesperança saltando da tela.

Pode parecer trágico, mas apenas para os que deram pouca atenção (ou que não entenderam mesmo) o tal do Houseísmo duas vezes mencionado. E aos que não sabem quem é House, a pergunta: o que fazem por aqui mesmo?

(Brincadeira. Mas não repitam isso.)

Voltando. Tudo Pode Dar Certo é a história de Boris Yellnikoff (David), um físico aposentado residente em Nova York - Woody Allen, lembrem-se - e de uma garota fugida do Mississipi chamada Melody (Evan Rachel Wood). Divorciado, hipocondríaco, manco por conta de uma tentativa malograda de suicídio, Boris é um mal humorado por excelência, movido a cusparadas verbais na cabeça da humanidade, sempre ressaltando seus fracassos e, sobretudo, sua inesgotável imbecilidade. Numa noite, na porta de casa, ele conhece Melody, que primeiro lhe pede algo para comer, depois o sofá para dormir... e graças a esse raro momento de generosidade de Boris é que as situações improváveis vão surgindo para mudar a vida dele, dela e dos outros que vão chegando à trama.

Os personagens são legais, a coadjuvante Evan Rachel Wood está muito bem - em todos os sentidos -, mas Tudo Pode Dar Certo está nas mãos de Larry David. Woody Allen, que não é idiota, sabe que, para suportar o filme centrado em um personagem desses, tem que entregá-lo a quem seja capaz de atender às expectativas, e David brilha; e ao mesmo tempo que um homem capaz de chamar uma criança aspirante a enxadrista de idiota e burra para sua própria mãe é algo bastante inverossímil, grande parte de suas observações sobre o ser humano são difíceis demais de serem combatidas. Sabendo que resistir é quase impossível, o espectador se entrega a Boris ao primeiro desaforo dele, e chega ao fim sem se arrepender.

E o nome do filme a ver com isso? Tudo. Enquanto os personagens sequer tentam ir contra a visão apocalíptica de Boris, por sua vez ele cede em silêncio ao que lhe parece improvável: aceitar o imponderável que os fatos lhe mostram e ser feliz com as pequenas coisas boas que nos cercam, apesar de tudo. No fim, dá para lembrar daquela frase velhaça: de onde menos se espera é que se acha alguma coisa - isso, claro, quando de lá não sai porra nenhuma mesmo.

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