Há um tempo ganhei de presente Umbigo Sem Fundo, livro em quadrinhos de um tal Dash Shaw, que para mim nada mais era do que um desconhecido. Na verdade, já vinha namorando a obra há tempos, por me parecer diferente, 100% singular já pelos dados de sua banda, que trazia informações divertidas, do tipo "Há vários gêneros de gêneros. Este é:", e a palavra "mistério" sublinhada, escolhida entre outros tipos. De cara, me soava divertida e estranha. Estava certo, mas Umbigo Sem Fundo não é apenas isso.
O livro conta a história dos Loony - em inglês, palavra que é sinônimo para louco, mas que na história é (também) o sobrenome de uma família composta por três filhos de pais já na terceira idade. David e Maggie Loony decidem se separar após 40 anos de união, e chamam os filhos Dennis, Claire e Peter (e respectivos agregados e filhos) para uma minitemporada em sua casa, localizada em uma cidade de praia, para contar a novidade.
O trio não é exatamente unido, os pais não são exatamente calorosos e a notícia bate de forma diferente em cada um dos integrantes da família: Dennis, o mais velho, fica transtornado/inconformado, Claire tenta ser compreensiva e Peter... bom, Peter - espertamente retratado por Shaw com a cabeça de um sapo, do jeito que o caçula dos Loony se imagina -, sempre se sentiu um outsider mesmo; então... E no meio disso tudo, textos em código, silêncios que dizem muito... e imagens. Muitas e excelentes e fortes e simples.
Tudo bem que qualquer bunda-mole não-expert em quadrinhos saiba que uma boa história do tipo precisa ter imagens que casem absurdamente com o texto escrito, mas Shaw vai além desse dever de casa, por sinal muitíssimo bem executado, com direito a estrelas no caderno: os traços e enquadramentos que ele escolhe dão um ritmo sedutor ao pequeno drama dos Loony. A impressão que se tem é a de que o ângulo de cada quadrinho foi pensado por horas - e a imagem ao lado, que retrata uma fila de supermercado, é um excelente exemplo disso.
Umbigo Sem Fundo é uma crônica sobre nascimento, crescimento, morte e pós-vida das relações humanas, especialmente as familiares, sem grandes sobressaltos além daqueles que fazem parte da estrada por todos nós conhecida, entendida e percorrida de formas diferentes: a velha e esquisita vidinha nem sempre analisada mas que de vez em quando acaba excepcionalmente exposta por sujeitos como Dash Shaw, mostrando a singeleza de momentos delicados, embaraçosos e esquisitos presentes no cotidiano que nos passa batido por conta das circunstâncias. Indicado para amantes de contos sobre a nossa vida ordinária e para os que gostam de se enxergar em excelentes histórias alheias.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
UMBIGO SEM FUNDO: RETRATO INCOMUM DE UMA FAMÍLIA ORDINÁRIA
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