quarta-feira, 24 de setembro de 2008

"LULLABY" - PALAVRAS MÁGICAS NUM MUNDO REAL

Há muito tempo vinha esbarrando com o nome de Chuck Palahniuk - a primeira vez, como a de muita gente, foi em "Clube da Luta", o filme, adaptação cinematográfica da obra dele. Mas só agora, em julho, consegui me encontrar para valer com um livro do sujeito. E o escolhido foi "Lullaby", lançado por aqui com o nome de "Cantiga de Ninar", história com os pés no fantástico mas também mergulhada em um mundo de maquiagem borrada, dentes cariados e sérios desvios mentais. Ou seja: o nosso.





"Lullaby" conta a história de Carl Streator, um repórter que investiga casos misteriosos de recém-nascidos que morreram sem qualquer motivo aparente. Logo ele percebe que há algo em comum entre as mortes: nos locais em que os bebês faleceram havia um mesmo livro, aberto na página que exibia a letra de uma secular canção africana - versos que ele descobre que têm o poder de matar as pessoas após serem lidos, cantarolados ou mesmo lembrados.

A partir daí, Streator acaba se envolvendo com um pequeno grupo de pessoas excêntricas, que abraçam sem problemas sua descoberta absurda: Helen Boyle, corretora de seguros e que, descobrimos, sabia do poder da canção antes dele; a secretária dela, Mona, aprendiz de bruxa new age; e o namorado da secretária, o paranóico Oyster. Os quatro se unem para pegar a estrada com a missão de destruir os exemplares disponíveis do livro. Loucura? Você não faz idéia.

Os retalhos da trama de "Lullaby" vão de anúncios de jornal que visam reunir vítimas de erros grotescos de estabelecimentos comerciais - tipo gente que contraiu salmonela de um mesmo restaurante japonês - a uma vaca que, do nada, aparece falando no abatedouro de uma cidadezinha, passando por um paramédico praticante de necrofilia. E, olhando de cima, tudo acaba arrumadinho e fazendo muito sentido, mesmo quando a história ameaça - ameaça - desandar. Quando se pensa que a jornada do quarteto está caindo em um poço de tédio, eis que a história ganha um novo gancho, que acaba dando um novo sentido à odisséia de Streator, para culminar em um encerramento espetacular.

Nessa brincadeira toda, os que gostaram de "Clube da Luta" vão encontrar em "Lullaby" traços do clima conspiratório da trama de Tyler Durden, sobretudo nas visitas freqüentes aos pensamentos de Strator e de Oyster. A razão é simples: são personagens e histórias de um só mundo, espantosos e doentios como o recorde bizarro do Guiness, o freak do circo de horrores, o 2 girls 1 cup da vez. Coisas que adoramos fingir que vivem longe, mas que às vezes - muitas vezes - estão numa esquina mental que visitamos de vez em quando, sobretudo quando ninguém está olhando.

Seria legal dizer que "Lullaby" é uma versão suja, humana e despudorada de Harry Potter, cuja Hogwarts é uma estrada de mortos, em que as criaturas fantásticas viram notícia de tablóide e o herói é miseravelmente falível, com pecados-dos-quais-não-ousaríamos-dizer-os-nomes. Talvez eu nem estivesse tão longe da verdade, mas "Lullaby" é um daqueles livros que só uma bendita inquietação após o ponto final pode definir com justiça - e, após 260 páginas, é isso que a excelente obra de Chuck Palahniuk merece.

2 comentários:

Kaká disse...

Eu adoro o Palahniuk, as descrições dele sobre anatomia são as melhores. Ele descreve corpo e sensações num detalhe impressionante. Ainda não li Lullaby, mas vou procurar em inglês. Já li Diário, Rant e Clube da Luta

Anônimo disse...

Palahniuk é meu escritor favorito, já li Clube da Luta, Cantiga de Ninar, Sobrevivente, No Sufoco, Diário e Assombro. Recomendo fortemente o livro Sobrevivente para ser a próxima obra de Palahniuk a ser lida por vc Carlos Alexandre!

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