segunda-feira, 10 de novembro de 2008

PLANETA TERRA 2008 - E O TÍTULO É DO KAISER CHIEFS!

No ano passado cá estava eu em meu sofá, vendo o Devo tocar no Planeta Festival 2007, me punindo por não ter ido conferi-los in loco. Em 2008, a preguiça quase me faz repetir a frustração, pois fui um dos que brasileiramente demoraram para comprar meu bendito ingresso a ponto de vê-los esgotarem. Para minha salvação, surgiu um generoso convite de Lívio "Bloody Pop" Vilela; e graças a ele - obrigado de novo, cara! - fui parar em um dos melhores grandes festivais brasileiros dos últimos tempos aos 40 minutos do segundo tempo. E essa é apenas a primeira metáfora futebolística de meu relato...

Como quase sempre é impossível ver tudo o que se quer ver - e também pelo cansativo esquema kamikase/bate-volta de minha viagem -, mirei "apenas" em cinco bandas: Jesus and Mary Chain, Spoon, Breeders, Bloc Party e Kaiser Chiefs. Por essas e outras é que acabei perdendo o Vanguart, chegando à Vila dos Galpões apenas no meio do show de Mallu Magalhães.

Não tive muita vontade de prestar atenção, sobretudo ao olhar pro palco e ver aquela menina vestida de detetive de peça infantil de matinê dominical. Há um tempo eu falei dela por aqui, e foram palavras elogiosas, pois Mallu é talentosa, do tipo que pode muito bem dar trabalho - musicalmente falando, deixo claro - quando crescer; mas temo que a exagerada adulação (sobretudo da mídia) possa "queimá-la", como acho que já está acontecendo. E se isso acontecer, não vai ter Johnny Cash nem Lennon & McCartney que a salvem. Mas receios à parte, o que vi ontem foi enfadonho e cru para cacete. Do MySpace pro Main Stage há um longo caminho que Mallu não trilhou e que precisa(va) trilhar. Uma boa rodagem nas divisões de base não faria mal a ela não... Ainda há tempo, acho.



Cliquem nas fotos para ampliá-las)


Da aspirante aos veteranos: minutos depois, era a vez de Jesus and Mary Chain mostrar serviço por ali. Muitos presentes reclamaram do som ruim no comecinho, mas eu senti falta mesmo foi do volume, também estranhando uma certa limpidez vinda das caixas de som. A banda dos irmãos William & Jim Reid merecia ser tratada com um pouco mais de sujeira e potência; porém ainda assim foi bom, muito bom. O setlist foi redondíssimo, embalado pelos hits da banda. Todos estavam lá: "Head On", "Just Like Honey", "Far Gone and Out"... Houve até espaço para uma novidade: a fresquíssima "Kennedy Song", que abriu a reta final, acompanhada por "Just Like Honey" e "Reverence". Os fãs da banda e os que estavam ali apenas esperando o Offspring - maioria do público - curtiram.

Eu não estava ali para ver Dexter Holland e companhia não, pois já os testemunhei em ação por algumas vezes e também porque não gosto de nada que ouço do Offspring desde...humm... 1998. Assim, acabei entretido em uma e outra roda de papo, naquela sucessão de reencontros com conhecidos, camaradas e grandes amigos, ocorrências clássicas em todo festival; e com isso perdi o Foals. Os que viram saíram do galpão do palco indie falando muito bem. Tomara que não demorem a baixar novamente por essas terras.






Digo o mesmo em relação ao Spoon - se bem que pude acompanhar boa parte do show dos texanos. Até então já tinha ouvido uma coisa ou outra deles, sempre gostando mas nunca prestando muita atenção. Não faz mal: se tem uma coisa que adoro fazer em festivais é simplesmente deixar para conhecer a banda ali na hora. E a boa presença de palco e as melodias do grupo me convenceram. Já estou indo atrás das versões em estúdio...





Em seguida, correriazinha do palco indie para o principal, pois o Bloc Party faria o show da vez. E o quarteto fez o dever de casa certinho, tocando sucessos que não poderiam ficar de fora de seu set ("Banquet", "Like Eating Glass") e mostrando músicas do novo disco, "Intimacy", que soaram muitíssimo bem - destaque para "Mercury" e "Ares". Mesmo com a animação da banda, a platéia esteve um tanto quanto morna - ok, exceto em "Banquet" -, que colaborou e muito para o show não decolar.





É isso: foi bacana, coisa e tal, mas não foi O show. Não aconteceu do jeito que um primeiro show do Bloc Party no Brasil tinha que acontecer; e não por culpa de Kele Okereke - que chegou a se desculpar pelo fatídico playback no VMB - e seus parceiros. Aliás, teria sido o micaço no prêmio da MTV a causa de uma recepção menos intensa? Não acho isso não, mas tenho certeza de que o show de hoje no Circo Voador, aqui no Rio, será melhor. Antes que você possa pensar em bairrismos, justifico: é que, nesta segunda, o Bloc Party será a única banda da noite, e isso faz uma diferença e tanto, em diversos sentidos. É só lembrar do Franz Ferdinand arrebentando em vôo solo no mesmo Circo depois de uma sequência de shows como banda de abertura para o U2.





Não fiquei até o fim do Bloc Party - perdi "Helicopter"! Droga! - porque precisava dar um pulo ao palco indie e reparar um pouco de uma grave falta: o fato de não ter visto Breeders quando estiveram aqui no Curitiba Pop Festival. Cheguei atrasado, ao som de "Cannonball" - um belo e barulhento tapete vermelho sonoro estendido por Kim e Kelley Deal. Aliás, as gêmeas e ex-musas indie estavam tão rechonchudinhas quanto simpáticas, falando o tempo todo com o público entre uma música e outra. Aliás, bom destacar: a primeira vez em que ouvi um som realmente porrada no Planeta Terra foi através delas - eu sei, pulei o Animal Collective. Mas as gêmeas não mandaram só tijolo não: teve também doçura, especialmente em "Fortunately Gone" e "Regalame Esta Noche", simpática balada do "Mountain Battles", disco da banda lançado este ano. Um encerramento na medida para as atividades do Indie Stage e a última preliminar para a partida principal daquela nublada noite de sábado...





Coube ao Kaiser Chiefs não apenas as honras como também a responsabilidade de fazer o último show do PTerra. E desde o primeiro minuto de sua apresentação eles mostraram porque tiraram seu nome de uma equipe de futebol sul-africano: a verdade é que o quinteto é mesmo um time cujo jogo enche os olhos de quem vê, com seus jogadores pondo entrosamento e categoria a serviço de sua estrela, o vocalista Ricky Wilson.

No palco, Wilson é difícil de ser marcado, um dínamo... de Leeds. O cara não pára um segundo. Corre, sobe na caixa de retorno, desce, espalma a pandeirola, fala com o público, sova o cowbell, bate no prato da bateria... e tudo isso sem descuidar do principal: o microfone - melhor, os microfones, já que ele deve ter usado uns 2342 ao longo do show. A voz de Wilson não serve só para que ele cante (bem): é através dela que ele comanda a torcida/público, convidando-o a jogar junto. O apelo é irresistível, e milhares de pessoas fazem coro para as ótimas músicas dos Chiefs. A fileira é matadora: "Everyday I Love You Less and Less", "Ruby", "Na Na Na Na Naa", "Oh My God"... Só golaços - muitos deles comemorados por Wilson juntinho da galera - a mesma que coube direitinho na palma das mãos dele o jogo inteiro.





Craque que é craque tem carisma; e Ricky Wilson usou o seu em outros lances da partida, em mensagens em português errado, comicamente lido de um papel, e muitas delas exaltavam um outro jogador de seu escrete: Peanut, o tecladista que ali estava, e que na véspera havia operado apêndice, anunciado pelo companheiro como "Híroi"(sic). Alguém pensou em raça aí? De formas diferentes, Peanut, Wilson e os demais a dominaram até o fim. Quase na despedida, cantor e público bradaram o que aquela que pode ser considerada o hino dos Kaiser Chiefs: "I Predict A Riot". Com uma certa ironia: na verdade, o tumulto já tinha acontecido desde que os Chiefs pisaram no palco; e fosse o Planeta Terra um campeonato, ali estava o vencedor.


VÍDEOS! VÍDEOS! VÍDEOS!

Ainda na onda futebolística, como diria aquele saudoso locutor, taí o que vocês queriam: três vídeos do Planeta Terra feitos por mim. Na ordem, Jesus and Mary Chain com "Just Like Honey", Bloc Party com "Banquet" e Kaiser Chiefs com "Everyday I Love You Less and Less". Cliquem e corram para o abraço:











P.S.: Não poderia deixar de agradecer também ao amigo André Mizarela, companheiro de viagem, por ter conseguido nossa hospedagem. Quatro, três, dois, um...!

7 comentários:

Kaká disse...

Ahh eu queria muito ter visto o Kaiser Chiefs! Uma das desvantagens de morar no nordeste é que essas bandas nunca vem por aqui.

Anônimo disse...

"o que seria a última música do show, aquela que pode ser considerada o hino dos Kaiser Chiefs: "I Predict A Riot" "

A última música foi "Oh My God!".
Ótima review. Concordo com tudo que vc disse.

Matheus Rufino disse...

humpf... que inveja...hehe

Sou louco pra ir nesses festivais, mas além de eu morar em BH(aqui só tem o pop rock Brasil que só vai banda emo agora), ainda falta tempo e money, mas um dia irei em todos quanto for possivel.. enquanto isso fico viajando com seus relatos CA, que são ótimos por sinal.

Matheus Rufino disse...

off topic: Vi essa e não pude deixar de comentar aki. O Montegro do Botafogo relacionou o Flamengo com a máfia e disse que o futebol brasileiro "esta nas mãos da família soprano": http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Times/Botafogo/0,,MUL856737-9861,00-MONTENEGRO+ENQUANTO+A+FAMILIA+SOPRANO+ESTIVER+NO+COMANDO+VAI+TER+MUITO+CHOR.html

Prova de que nossos cartolas também assistem HBO..

Matheus Rufino disse...

o link não foi direito:
http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Times/Botafogo/0,,MUL856737-9861,00-MONTENEGRO+ENQUANTO+A+FAMILIA+SOPRANO
+ESTIVER+NO+COMANDO+VAI+TER+MUITO+CHOR.html

Carlos Alexandre Monteiro disse...

Kaká, é brabo mesmo! E o Abril Pro Rock, RecBeat...? Acabaram? :(

Carolina, verdade! Bem que algo me dizia que "I Predict..." não tinha sido a última! Minha memória me traiu mas a sua me ajudou. Obrigado! :)

Matheus, deixa os caras... Quem pode, chora. Heheh!

Kaká disse...

CA, os dois festivais ainda tem sim, geralmente são: uma ou duas bandas internacionais, algumas do sul e o resto são bandas locais aqui do nordeste.

Só que é em Recife, de carro são umas 11 horas, e de avião por um pouco de dinheiro a mais eu vou para o Rio.

Aqui em Fortaleza tem o Ceará Music, mas é só com bandas nacionais e quase todas dos anos 80. Se bem que esse ano teve The Cult, do fundo do baú.

Só porque eu reclamei, olhei agora a programação do fim de semana e o Offspring vem para cá. Podiam ter trazido o Kaiser...Mas como diz o Dr. House e Mick Jagger: you can't always get what you want.

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