sexta-feira, 26 de junho de 2009
MICHAEL JACKSON: ADEUS ANUNCIADO NUMA SALA ESCURA
A notícia da morte de Michael Jackson poderia ter chegado até mim em diversos momentos, mas quis acontecer enquanto saía do cinema, logo após ver "Simonal - Ninguém Sabe O Duro Que Dei". Momentos depois de deixar a sala de exibição, naquele período em que a mente ainda fervilha em torno daquilo que se viu na tela, resolvi mexer no Twitter de meu celular, e lá estava a bomba, repetida, distribuída em quase toda a página de mensagens, repercutida da mesma forma que continuará sendo nos próximos dias. O esperado no inesperado.
Custei a entender. Sem qualquer exagero, foi um abalo pessoal considerável. Pensei nas diversas vezes em que conversei com amigos, parentes etc., tentando imaginar o quão grande seria a comoção quando um Pelé morresse, um Roberto Carlos, uma Madonna, um... Michael Jackson - e lembrei que não me via com 32 anos ao imaginar tais situações. Voltei uns 25 anos de minha vida pra lembrar da dança coletiva de zumbis imitando o clipe de "Thriller" no recreio do colégio, na luva brilhante em uma das mãos, no Moonwalk que parecia mágica - e que não conseguia imitar -, nos cabelos pegando fogo no comercial da Pepsi, em "Beat It", em "Bad", em "Black Or White", nas polêmicas, na esquisitice... Foi uma avalanche, ocorrida no instante de uma olhada para a tela do telefone, tomando conta de meu pensamento sem pedir licença ao filme que acabara de ver. E aí é que está: na minha cabeça, Michael Jackson não soterrou Simonal, mas sim uniu-se a ele.
Os dois estavam ali, me confundindo. Não era uma disputa de espaço: eles estavam juntos, e de um jeito improvável. O Maracanãzinho tinha Jackson no palco, jogando o chapéu, rodando em torno de si e deslizando para trás na ponta dos pés; o ostracismo dos últimos anos do americano era enxaguado pelas lágrimas da viúva de Simonal, lamentando e sentindo seu abandono. Simonal pagava milhões pelo silêncio do contador com quem se desentendera; Jackson tentava inutilmente reaver sua carreira naqueles programas de emissoras minúsculas, de audiência irrisória, em alguma cidade do Brasil que de forma alguma escondia que pensava ser generosidade o ato de ainda lhe dar ouvidos.
A notícia da morte de Michael Jackson podia realmente ter chegado até mim em diversos momentos, mas aconteceu durante a morte de Wilson Simonal. Ironicamente, não poderia fazer mais sentido.
Agora, horas depois, não ouço pilantragem nem pop. Nada além dos depoimentos de fãs, famosos, familiares e jornalistas de Jackson a CNN - quase um déjà vu dos instantes que marcaram meu começo de noite, sentado na poltrona daquela sala escura. A separação dos dois está nos contrastes das despedidas e nas proporções de minhas reverências, suficientemente resolvidas, afetivamente distintas; mas este histórico 25 de junho fica para mim como o dia em que uma vida e uma morte me apresentaram a outras iguais - que, ainda que introduzidas num todo, por conta da tristeza e do choque não consigo perceber, e nem sei quando perceberei. Talvez um dia, na saída de uma sessão de cinema como a dessa quinta - e na verdade, se me procurar direito, é ali que ainda estou.
***
O Podcast Tudo Está Rodando #18 vai ao ar na tarde de hoje. No repertório, seis vezes Michael Jackson.
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6 comentários:
um texto realmente tocante e que nos faz refletir. imagino que tudo deve estar rodando mesmo em sua mente, ainda na saída da sala escuro. obrigada por nos presentear com tão belo texto.
Coloquei um link para esse texto no blog. E estou aguardando o podcast. :)
C.A. Vou linkar vc no FiqueBege...texto emocionante, eu não poderia escrever melhor...
God Save Michael!
R.I.P. mestre supremo do pop!
Minha singela homenagem:
íiiiiihhhhhiiiiiii!!!! aúuuuullll!
chakapummmmm (mão no saco) áu!!
Saindo de fininho no moonwalker...
Lindo post, Carlão. Adorei.
Carlão,
E não é que fiquei sabendo que Jackson morreu no mesmo dia que Simonal.
A história dos dois tem vários pontos de encontro.
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